domingo, 29 de abril de 2007

LUGAR




Este lugar onde moro,
Solar há muito em ruínas,
Cercado por altos
Ciprestes que cantam
Mórbidas músicas,
Mortas sem vida.
E eu tão longe de tão perto
Quase que alcanço
Perdida as cinzas de um pinheiro
Manso que já não é mais
Do que lembrança esquecida.

segunda-feira, 16 de abril de 2007




MAR

Ah imensidão azulada!
Como é belo o teu marejar.
O teu rendado cuidado,
O teu perfume maresia mar...
Leva-me contigo, mar imenso
E deixa-me em teu leito velejar,
Qual espectro perdido de tanto
Te amar, ò mar!

domingo, 15 de abril de 2007




MYSTIC

Perco-me na escuridão deste sepulcro
Que é a vida.
Busco a Luz Espiritual tão prometida.
É depois da morte que a encontramos,
Ou é a morte esta vida?






sexta-feira, 13 de abril de 2007








ESPECTRO


Este doce sussurrar
Que me prende e intriga
É como antigo solar
Uma reminiscência antiga.
Sózinha, sinto-me só
Acompanhada é gente a mais
Quem me dera encontrar
Um porto certo o meu cais.
E partir numa galera,
Inventar novos horizontes,
Correr nua pelos pinhais,
Bebendo alegria em todas as fontes
E se alguém perguntasse
Quem és tu afinal?
Responderia sorrindo:
Um espectro, uma miragem,
Um oásis em seco pantanal!

quinta-feira, 12 de abril de 2007


PEDRA TUMULAR














Tenho uma pedra tumular


No meu peito. Seu peso pesaroso


Impede-me de respirar.


Mas tu nao ves nem sentes.


Envolto em opiescas cores,


Me deixas sufocar...










SABADO












Sábado de gritos roxos,
Aves agoirentas
E choros ensanguentados.
Sábado de lilás dramático
E gémeos maquiavélicos.
Sábado marchetado
A lírios de face velada,
Boca apagada
E olhos já secos.
Sábado final,
Sábado impostor,
Sábado fétido,
Sábado de dor!





ONDE?


Há paixão dentro de mim
Rosas roxas, cruzes pretas
Pressinto crepúsculos,
Tristezas sem fim,
E soluço choros sem pétalas.
Onde estás sede de viver?
Luzes de bem querer?
Botão a desabrochar jasmim?
Onde, em vez de Paixão p’la morte,
Encontrar uma simbiose por sorte
Entre odiar e amar?
E cheia de luz
Renascer...
Em cor de carmim a cantar!

segunda-feira, 2 de abril de 2007











MÃOS DE POESIA






As mãos são um mistério. Abertas, em longos dedos, são mansas querendo alcançar o infinito. Fechadas são fúria, violência e protesto. As mãos são, enfim, um instrumento de comunicação afectiva: afagam, amam, desejam… Mas também matam. Elas foram construtoras do Homem, da Arte, da Ciência, da Poesia… Numa palavra, da Cultura, da Humanidade.

MÃOS

Mãos meticulosas
Mãos mal amadas
Tenebrosas, mãos suadas;
De álgidas manhãs negras
Desabrochando em rosas
Ah, se tuas mãos fossem poemas
No crepúsculo de Abril…
Não seriam mãos amaldiçoadas,
Transfiguradas, na languidez do tempo
Tuas mãos seriam Quimeras,
Seriam ventos de Suão
E perdidas no tempo
Fariam parte de um outro Verão!